Os dissabores de um time ouro olímpico

Nesta semana completaram-se dois anos da única conquista que a seleção brasileira ainda não tinha: o ouro olímpico.

No Maracanã lotado, uma equipe sub-23, reforçada pelos “veteranos” Weverton, Renato Augusto e Neymar, superou nos pênaltis a seleção alemã (também com três reforços acima dos 23 anos), depois de empate por 1 a 1 no tempo normal e prorrogação sem gols.

Encerrada aquela partida, a qual pude ver nas arquibancadas do estádio, imaginei: uma boa parte dessa turma estará na Copa na Rússia, em 2018.

Não foi o que se viu. Dos 18 jogadores da seleção da Rio-2016, só 4 integraram a equipe que caiu nas quartas de final do Mundial deste ano, diante da Bélgica (2 a 1).

E mesmo esses que lá estiveram não terão uma Copa para lembrar com saudade – não só pela eliminação, mas pela participação individual, aquém do esperado.

Não dá para afirmar categoricamente que a medalha dourada significou uma maldição para quem a recebeu, mas acontecimentos posteriores àquele 20 de agosto de 2016 significaram dissabores marcantes aos campeões, sem exceção.

Weverton (goleiro): suas ótimas atuações minguaram, e ele deixou de ser chamado para a seleção. Negociado pelo Atlético-PR com o Palmeiras, tornou-se terceira opção, atrás de Fernando Prass e Jailson. Só agora tem tido chance como titular.

Zeca (lateral): no Santos, teve grave lesão no joelho e travou longa batalha jurídica para se desvincular do clube. Somente em abril deste ano mudou de clube, indo para o Internacional.

Marquinhos (zagueiro): titular durante as eliminatórias, na hora do filé-mignon ficou fora. O técnico Tite o deixou na reserva de Thiago Silva, seu colega de Paris Saint-Germain, na Copa.

Rodrigo Caio (zagueiro): na campanha que quase rebaixou o São Paulo no Brasileiro de 2017, era titular. Machucou o pé esquerdo e, sem ele, neste ano o time lidera a competição.

Douglas Santos (lateral): contratado pelo Hamburgo, no primeiro semestre acabou rebaixado com a equipe, que jamais havia caído para a segunda divisão na Alemanha.

Walace (volante): situação idêntica à de Douglas Santos.

Renato Augusto (meia): titular nas eliminatórias, teve lesão na coxa e não chegou à Copa em boas condições. Entrou no decorrer do jogo com a Bélgica, fez um gol, mas perdeu outro, sem marcação e de frente para o goleiro, que poderia ter salvado o Brasil.

Luan (meia-atacante): evoluiu muito com o Grêmio, que foi campeão da Libertadores, mas fracassou na decisão do Mundial de Clubes, contra o gigante Real Madrid, e acabou não sendo chamado para a Copa.

Gabriel “Gabigol” (atacante): migrou para a Europa e não foi utilizado nem na Inter de Milão nem no Benfica. Um ano e meio de carreira desperdiçados antes do retorno ao Santos.

Gabriel Jesus (atacante): amargou lesão no pé, fratura no rosto, lesão no joelho, tudo no intervalo de um ano. Na Copa, o artilheiro da seleção nas eliminatórias não fez um mísero gol.

Neymar (atacante): protagonista da mais cara transferência do futebol (o PSG pagou € 222 milhões ao Barcelona), tinha a expectativa de se destacar na França a ponto de ser eleito o melhor do mundo. Teve lesão no pé que o tirou de jogo decisivo da Liga dos Campeões em mata-mata com o Real Madrid, e na Copa ganhou os holofotes mais pelo excesso de simulações de faltas do que pelo talento futebolístico.

Da esq. para a dir., a partir de trás, no sentido horário, a seleção brasileira que disputou a final olímpica de 2016: Gabriel Jesus, Renato Augusto, Walace, Rodrigo Caio, Marquinhos, Weverton, Douglas Santos, Neymar, Luan, Gabigol e Zeca (Julia Chequer – 13.ago.2016//Folhapress)

Dos reservas (o goleiro Uilson, o lateral William, o zagueiro Luan, os volantes Rodrigo Dourado e Thiago Maia e os meias-atacantes Rafinha e Felipe Anderson), nenhum sobressaiu em seus respectivos clubes. Teve até quem caiu para a segunda divisão (Dourado, com o Inter).

Nem o treinador escapou. Rogério Micale não perdurou na seleção sub-20, nem no Atlético-MG, nem no Paraná Clube. Com resultados ruins, foi demitido três vezes, a mais recente na semana retrasada.