Ausência de Giuliano da lista de Tite para a Copa é o único estranhamento
Na coerente convocação de Tite da seleção brasileira para a Copa do Mundo da Rússia, não ficou ninguém essencial de fora, alguém que cause discussão acalorada em rodas de amigos, encontros familiares ou cafezinhos no escritório.
Na Copa da Coreia/Japão, em 2002, questionou-se o treinador Luiz Felipe Scolari por não selecionar o artilheiro Romário, contrariando o clamor popular, e o meia Djalminha, jogando demais à época. Como o Brasil foi campeão, depois ninguém mais deu bola para essas decisões de Felipão.
Para a Copa de 2010, na África do Sul, a não inclusão de duas jovens revelações do Santos (Neymar e Paulo Henrique Ganso) resultou em críticas a Dunga. Como o Brasil fracassou (caiu nas quartas de final ao perder de virada para a Holanda, por 2 a 1), elas persistiram depois, e persistem até hoje.
O único estranhamento na lista de Tite, anunciada nesta segunda (14) na sede da Confederação Brasileira de Futebol, é a ausência do meia Giuliano, 27.
O ex-jogador de Internacional e Grêmio foi relacionado para 11 dos 19 jogos da era Tite, tendo atuado em 6 (3 deles como titular).
Mais que isso: está jogando o melhor futebol de sua carreira, com constância, desde 2016.
Giuliano queria muito ir à Copa. “Quem não quer?”, questionará o leitor. Só que o paranaense de Curitiba até forçou uma transferência de clube para se manter na vitrine.
No meio do ano passado, ao perceber que perdia espaço no Zenit, da Rússia, apesar dos 16 gols e 13 assistências na temporada 2016/2017 (em 36 jogos, contando campeonato nacional e Liga Europa), ele se desdobrou para sair.
Temia não ter chance de jogar nos meses anteriores ao Mundial, o que reduziria a chance de ser convocado.
Negociou com os dirigentes russos, tarefa nem sempre fácil. Mudou de clube, mudou de país.
Acertou com o Fenerbahce, um dos grandes da Turquia, no qual tem sido titular – e ouso afirmar que se tornou, com grandes apresentações, o “dono do time”.
Presente em 30 jogos (29 como titular), anotou 14 gols e deu cinco assistências no Campeonato Turco. Vice-líder, o Fenerbahce lutará na rodada final da competição por vaga na fase preliminar da Liga dos Campeões da Europa – o título é improvável, já que o Galatasaray está três pontos à frente.
Giuliano mescla força física, técnica, visão de jogo e raça. É disciplinado (não recebeu um único cartão no campeonato) e ainda faz gols com frequência.
Não é craque, é verdade, mas saindo da reserva tem mais potencial para mudar um jogo, caso seja necessário, do que Fred ou Taison, ambos do Shakhtar Donetsk (Ucrânia), ambos convocados, ambos opções perfeitamente descartáveis.
O primeiro, mais um volante (já há na seleção o titularíssimo Casemiro, o reserva imediato, Fernandinho, e Renato Augusto, que pode fazer a função de meia defensivo), vai jogar em que situação? Só se dois dos citados se machucarem, ou um se lesionar e outro estiver suspenso – situações improváveis.
O segundo tende a se tornar o Bernard (mais um dos vários brasileiros que defendem o Shakhtar) da Copa de 2014. Ficará, se nada de excepcional acontecer, no banco como um figurante.

Apelidado por Felipão de “alegria nas pernas”, Bernard acabou escalado contra a Alemanha, naquele fatídico 7 a 1, na vaga do lesionado Neymar, contra todos os prognósticos – era esperado que Willian jogasse. E Bernard absolutamente nada fez.
Sejamos realistas… Brasil perdendo, precisando reagir, fazer gols, lançar mão de alguém que faça a diferença. E a opção para entrar no jogo é… Taison. Dá para ter fé?
Tite, que enaltece a versatilidade de Taison (“Pode jogar por dentro ou por fora, como o Coutinho”, diz), certamente tem. Que esteja certo e eu, errado.
Ou melhor: que o Brasil estraçalhe em todos os jogos e não precise recorrer a Taison, que então passará a Copa batendo palmas.
Pois, se Taison for mal, no Brasil, bem mais do que o de Giuliano, outro nome será lembrado por estar ausente: Luan, do Grêmio. Que é mais jogador que Taison – assim como outro gremista, Arthur, é mais jogador que Fred.