Nem todo técnico tem a urgência de ir à Copa do Mundo
Ir à Copa do Mundo é o sonho de todo jogador de futebol. Não é diferente para os treinadores.
Essa ambição existe, afinal trata-se do mais famoso, importante, empolgante e prestigiado torneio de futebol entre seleções do planeta, realizado somente de quatro em quatro anos – por um mês, o mundo para para vê-lo.
Por exemplo, o colombiano Juan Carlos Osorio deixou o São Paulo em 2015 para comandar o México, com o declarado objetivo de estar no Mundial da Rússia, em 2018. Conseguiu a classificação, está quase lá – não há indicação de que será demitido.
Tite, o treinador da seleção brasileira, relevou o discurso crítico à Confederação Brasileira de Futebol para substituir Dunga na metade do ano passado. Bem-sucedido, classificou o Brasil e irá à próxima Copa.
Com Bert van Marwijk, entretanto, não é bem assim.
O holandês, que classificou a Arábia Saudita no começo deste mês, com uma vitória por 1 a 0 sobre o Japão, não irá ao Mundial russo – ao menos não no comando da seleção que veste verde.
O contrato de Van Marwijk expirou ao término da participação saudita nas eliminatórias e não foi renovado.
Houve estranhamento, já que o treinador recolocou a seleção do Oriente Médio em uma Copa após a ausência na África do Sul-2010 e no Brasil-2014. O prestígio de Van Marwijk estava nas alturas.

A federação de futebol saudita não deu explicações, apenas anunciou na quinta (14) a contratação do argentino Edgardo “Patón” Bauza, que em 2016 treinou o São Paulo, sendo semifinalista da Taça Libertadores, e a seleção de seu país, onde foi mal – durou só oito jogos e perdeu o emprego em abril deste ano.
Restou a Van Marwijk dar sua versão.
Segundo ele, a principal razão para a não continuidade foi a sua decisão de não morar permanentemente na Arábia Saudita, como desejavam os xeques locais, a fim de que o técnico acompanhasse de perto o campeonato nacional.
“Não quero, isso é inegociável”, afirmou o treinador ao grupo de comunicação NOS, da Holanda.
Ao longo dos dois anos à frente da seleção saudita, ele delegou a auxiliares a tarefa de observar os atletas selecionáveis que atuam no país.
Van Marwijk declarou que, nos dias que se seguiram à classificação, pessoas de seu estafe foram demitidas, o que ele considerou “inaceitável”.
O holandês afirmou que, nesse cenário, interrompeu a negociação com os dirigentes, e que soube pela imprensa que Bauza tinha sido contratado.

Há oito seleções classificadas para a Copa até agora (serão 32 ao todo): Rússia, Brasil, México, Bélgica, Irã, Japão, Coreia do Sul e Arábia Saudita.
Dos técnicos delas, o do Irã (o português Carlos Queiroz, em 2010, com Portugal) e o do Japão (o bósnio Vahid Halilhodzić, em 2014, com a Argélia) já tiveram o gostinho de ir a um Mundial na função – os demais serão estreantes.
No caso de Van Marwijk, já ter estado em uma Copa pode tê-lo influenciado a não se submeter a exigências para continuar no cargo. Não ir não seria tão frustrante, já que o fator “realizar um sonho” não existe mais.
“Gostaria de ir à Copa do Mundo, foi para isso que aceitei o cargo”, frisou o holandês de 65 anos. “Mas não vou deixar ninguém me dizer como devo fazer meu trabalho.”
Em sua primeira e única Copa, a de 2010, Van Marwijk fez bonito, não sendo campeão por um triz. A Holanda eliminou o Brasil nas quartas de final, o Uruguai na semifinal e só parou na favorita Espanha – e na prorrogação (1 a 0, gol de Iniesta).
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Em tempo: Patón Bauza, que tem 59 anos, somente atravessará a fronteira para dar sequência à carreira. Depois que saiu da seleção argentina, assumiu a dos Emirados Árabes. Não obteve vaga para o Mundial, porém causou boa impressão nos sauditas ao ganhar confronto entre os países por 2 a 1, três semanas atrás. Acabou contratado.