Neymar fala em desafio ao ir para o PSG, mas desistiu do maior ao deixar de jogar com Messi

Luís Curro

“A vida de um atleta é movida por desafios.”

Com essa frase Neymar inicia o discurso em vídeo no qual se despede do Barcelona. Ele deixou o clube espanhol, com quem tinha firmado contrato até 2021 em outubro de 2016, para jogar pelo Paris Saint-Germain, da França.

Neymar desistiu no meio do caminho. As razões ele não disse, mas basta observar friamente o cenário para afirmar quais elas são – pelo menos as principais.

  • Razão financeira: um salário de € 30 milhões por ano, livre de impostos, acima dos de Cristiano Ronaldo e Messi (os melhores jogadores do planeta desde 2008). No Barcelona, ganhava perto de € 13,5 milhões por ano.
  • Razão esportiva: tornar-se o melhor jogador do mundo, como protagonista de um clube que tem como meta primordial, e não é de hoje, ganhar a Liga dos Campeões da Europa. No Barcelona, viveu à sombra de Messi desde que desembarcou na Catalunha, em 2013.

Não vou analisar a questão monetária. Se o PSG vai pagar esse valor a Neymar, é porque acha que ele vale o preço.

O meu questionamento se relaciona à motivação esportiva de Neymar.

Se ele considera que a vida de um atleta se move por desafios, não haveria desafio maior para ele, no meu entendimento, do que superar o companheiro Messi em campo.

Desafio mesmo seria mostrar para o mundo que ele tem condição de jogar melhor, no clube, que o colega – e amigo – argentino.

Haveria algo mais prazeroso do que bater no peito e dizer, em uma hipotética conquista da Bola de Ouro da “France Football” e/ou do prêmio “The Best”, da Fifa: “Vejam e admirem: no mano a mano, eu o superei. O Barcelona tem um novo rei”.

Seria a perfeita passagem de bastão. Mas não será assim.

A conclusão é que Neymar, aos 25 anos, deduziu que não conseguiria suplantar o já trintão Messi. Não a curto prazo, pelo menos. Se por falta de capacidade ou de oportunidade, não dá para saber o que ele pensou – talvez um dia fale sobre o assunto.

Aqui, eu só posso assegurar que o tempo de jogo nas partidas era e seria, quase sempre, bem parecido para ambos.

Na temporada 2016/2017, a mais recente, considerando Campeonato Espanhol, Liga dos Campeões da Europa e Copa do Rei, eis a comparação:

  • Messi: 50 partidas, 4.272 minutos, 53 gols, 14 assistências, 9 cartões amarelos, nenhum cartão vermelho.
  • Neymar: 45 partidas, 3.971 minutos, 20 gols, 21 assistências, 15 cartões amarelos, um cartão vermelho.

A diferença na minutagem não é grande, só que a no número de gols é gigante. Dar assistências (passes que resultam em gols) é também muito importante, mas todo mundo sabe que o crédito maior – e não há como ou por que ser diferente – é para quem balança a rede.

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Enfim, estatísticas à parte, o negócio está feito, e Neymar é jogador do PSG.

Neymar comemora seu último gol pelo Barcelona, contra o Manchester United, na International Champions Cup, nos EUA (Brendan Smialowski – 26.jul.2017/AFP)

Ele está em forma – atuou nos três jogos de pré-temporada que o Barça disputou nos EUA, no fim de julho – e, se não houver nenhum entrave burocrático,  deve estrear no domingo (13), quando o PSG visita o Guingamp na segunda rodada da Ligue 1, o Campeonato Francês.

Para ser o melhor do mundo, será imprescindível que Neymar comece a balançar as redes logo, e muito – já que Messi, pelo Barcelona, deve fazê-lo sem parar em mais esta temporada.

Em tempo: Será vital observar o entrosamento de Neymar com o uruguaio Cavani no PSG. O atacante de 30 anos vem de sua temporada mais goleadora (50 gols em 53 partidas), que, contudo, não lhe deve servir para ser finalista de um dos prêmios de melhor do mundo em 2017 – aposto em Cristiano Ronaldo (que vencerá), Messi e Buffon. A conferir se haverá troca de passes constante entre Neymar e Cavani, com um contribuindo para os gols do outro, ou se a individualidade prevalecerá – o que significará indesejável problema de relacionamento.