Özil conta que Mourinho imitou coelho e fez ‘biquinho’ para mexer com seus brios
Mais uma autobiografia de um jogador de futebol ainda em atividade estará em breve no mercado – o lançamento está marcado para o próximo dia 16.
Desta vez é a de Mesut Özil, talentoso meia alemão de 28 anos que jogou como titular da seleção de seu país que conquistou no Brasil, em 2014, a Copa do Mundo.
Atualmente no Arsenal, de Londres, ele teve uma passagem pelo Real Madrid, time que defendeu por três temporadas (2010/2011, 2011/2012 e 2012/2013). Antes, jogou no Schalke e no Werder Bremen, ambos da Alemanha.
Seu treinador no Real era o badalado José Mourinho, hoje no Manchester United, e, sob o comando do português, Özil conquistou um Campeonato Espanhol, uma Supercopa da Espanha e uma Copa do Rei.
Na maior parte do tempo, o alemão teve o privilégio de ser titular. E, com essa regalia, a responsabilidade de atuar sempre em altíssimo nível, uma imposição do exigentíssimo Mourinho.
Özil é craque, tem uma visão de jogo privilegiada (tanto que notabiliza-se pelas assistências), técnica apurada (dribla fácil e tem ótimo controle de bola) e bate na redonda como poucos (o que lhe dá grande capacidade de armação), mas é daqueles jogadores que, jogo sim, jogo não, dá uma “apagada”.
O meia Alex, cracaço que defendeu o Palmeiras, tinha fama de ser assim. De vez em quando, parecia desinteressado do jogo. Quando menos dele se esperava, tornava-se decisivo.
A marcação nunca foi o forte de Özil, para insatisfação de Mourinho, célebre por armar equipes de muita pegada.
Essa falta de ímpeto ou de ânimo causou um sério atrito entre o alemão e o português, conforme relata o jogador em sua biografia, que tem tido trechos publicados pelo tabloide “Bild”.
Em uma das passagens, ambos quase brigaram no vestiário, no intervalo de uma das partidas do time merengue.
Desgostoso com a performance preguiçosa do atleta, Mourinho aproximou-se e desembestou a falar, rispidamente: “Você pensa que dar dois passes bonitos é suficiente. Pensa que jogar 50% do que pode é suficiente. Pensa que é bonitão demais para precisar marcar (os rivais)”.
Özil prosseguiu: “Ele me encarou com seus olhos marrons-escuros, e eu o encarei de volta, como dois pugilistas antes do início do primeiro round de uma luta. Ele esperava que eu reagisse”.
Na falta de uma reação, Mourinho decidiu fazer uma paródia para mostrar a todos no vestiário como Özil se comportava em campo.
“Você sabe como você é na marcação? Não? Vou mostrar”, afirmou Mourinho, segundo o relato do alemão.
E então Mou começou a imitar um coelho saltitante, mantendo as mãos encolhidas, junto ao peito, e fazendo um “biquinho” com a boca.
Foi o suficiente para despertar a raiva em Özil, que atirou a camisa na direção do treinador e lhe disse que entrasse em campo e fizesse melhor que ele.
“Ah, está desistindo? Você é mesmo um covarde. O que você quer? Deliciar-se com a água quente daquele lindo chuveiro? Passar xampu em seus cabelos?”, provocou Mourinho. “Quer ficar sozinho aqui? Ou provar para seus colegas, para os torcedores e para mim do que você é capaz?”
E Özil, naquele momento, de fato acovardou-se. Capitulou. Não voltou para o segundo tempo e foi mesmo para o chuveiro tomar banho – talvez frio, para esfriar a cabeça.
Essa é uma das histórias saborosas do futebol que merecem ser contadas. Até porque tratou-se apenas de um entrevero pontual.
Özil considera Mourinho um grande técnico. “Como eu o odiei”, afirmou a respeito do episódio do vestiário. “E como eu o amo hoje.”
Mourinho é admirador de Özil. “É único. Não há uma cópia dele. Nem sequer uma cópia malfeita.”
Há chance de um reencontro? Talvez.
O contrato de Özil com o Arsenal vai até 2018, mas ele pode forçar uma saída no meio deste ano se o clube não renovar com o treinador francês Arsène Wenger, responsável por contratá-lo em 2013.
Se isso acontecer, o Manchester United de Mourinho pode ser seu destino.
Em tempo: No intervalo de qual partida ocorreu essa desavença entre Özil e Mourinho? Não foi informado, mas dá para tentar adivinhar. O alemão não retornou para o segundo tempo em somente quatro das partidas que começou como titular do Real Madrid, duas pelo Espanhol e duas pela Liga dos Campeões da Europa – dessas, o Real ganhou uma e perdeu três. Meu palpite é que tenha sido no jogo de ida da semifinal da Champions League, em abril de 2011, contra o Barcelona, no Santiago Bernabéu. Ao fim do primeiro tempo, 0 a 0. Sem Özil, piorou, e o Real perdeu de 2 a 0, dois gols de Messi. Nas duas partidas seguintes, uma pelo Espanhol (derrota por 3 a 2 para o Zaragoza) e a de volta pela Champions (1 a 1), Özil começou na reserva – possivelmente, “castigado” por Mourinho.