Jovem refugiado de Gâmbia ganha fama com gol da vitória na elite alemã
O futebol é profuso em histórias de superação. Quase todos os jogadores do Terceiro Mundo têm a sua para contar.
O gambiano Ousman Manneh, de 19 anos, está nesse rol. Somente o fato de ser um refugiado, que deixou sua terra natal, sozinho, dois anos atrás, já o torna um personagem peculiar.
Peculiar porém obscuro. Muito pouca gente mundo afora sabe da existência do grandalhão (1,89 m) jogador africano. Isso, contudo, pode mudar a partir de agora.
Pois a fama chegou forte para Manneh no último sábado (15), no duelo pelo Campeonato Alemão entre Werder Bremen e Bayer Leverkusen.
Diante de 41 mil torcedores no estádio Weser, em Bremen, o camisa 47 marcou, aos 14 minutos do segundo tempo, o gol da vitória por 2 a 1 de seu time.

Um gol de oportunismo. Em uma bola espirrada na grande área, Manneh atirou-se para se antecipar ao zagueiro Toprak e, da marca do pênalti, chutar no canto e superar o goleiro Leno.
Era seu primeiro gol na Bundesliga, em sua quarta partida no campeonato.
“Não posso acreditar. É mesmo real ou estou sonhando? O sentimento é indescritível. É o maior momento da minha vida”, afirmou Manneh depois do jogo.

As razões que o levaram a fugir de Gâmbia, uma nas nações mais pobres do mundo (é a 175ª entre 188 no Índice de Desenvolvimento Humano, que classifica os países pelo grau de desenvolvimento), são ainda desconhecidas, já que o atacante recusa-se a falar sobre o tema.
“Não quero que perguntem continuamente sobre isso. Me faz lembrar do que se passou e tudo vem à tona”, justifica Manneh ao ser evasivo.
O que se sabe é que ele mantém contato com a família em Gâmbia, que fica na África ocidental. “Falo todos os dias com minha mãe, que está orgulhosa, apesar de não entender nada deste jogo.”
Manneh chegou à Alemanha em 2014 e passou a viver em um centro para refugiados. Adepto do futebol, obteve vaga no Blumenthaler, clube da quinta divisão.
Destacou-se na equipe de base (15 gols em 11 jogos) e despertou a cobiça de várias agremiações de melhor nível, entre eles o Werder Bremen, que o contratou para atuar pela equipe B.
As boas atuações, aliadas às lesões dos principais atacantes da equipe, Claudio Pizarro e Max Kruse, levaram o jovem treinador Alexander Nouri, de 37 anos, a puxá-lo para o time de cima.
Para o meia Clemens Fritz, Manneh é um “rapaz de boa índole” e muito interessado em progredir. “Ainda nos dará muitas alegrias”, prevê o capitão do Bremen.
Em tempo: Gâmbia, que nunca esteve em uma Copa do Mundo (e não irá à da Rússia, em 2018) e nem mesmo disputou uma Copa Africana de Nações, jamais forjou um grande nome para o futebol. Ousman Manneh tem a oportunidade de ser o primeiro – a juventude e a oportunidade em um clube tradicional de uma grande liga (o Werder Bremen tem quatro taças do Campeonato Alemão) contam a seu favor.