Um apelo a Tite: se Dunga cair, aceite a seleção
O Brasil foi miseravelmente eliminado da Copa América Centenário, nos EUA, na primeira fase. Perdeu de 1 a 0 do Peru, time que não disputa uma Copa do Mundo desde 1982.
O gol do Peru, de Ruidíaz, aos 30 minutos do segundo tempo, foi irregular, pois ele usou, disfarçadamente, o braço direito para tocar a bola para as redes de Alisson.
A arbitragem comandada pelo uruguaio Andrés Cunha errou. Se não tivesse errado, a seleção de Dunga poderia ter sobrevida na competição. O 0 a 0 servia ao Brasil.
É triste, doloroso até, escrever isto: ainda bem que errou. Assim, é possível, provável até, que a desclassificação vexaminosa force o treinador a deixar o cargo. Demitido, pois se demitir não é algo imaginável em se tratando de Dunga.
Ainda há dois terços das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018 a disputar, e com uma troca agora talvez o Brasil se recupere e se classifique. Atualmente é o sexto colocado. Os quatro primeiros obtêm vaga automática para o Mundial na Rússia, e o quinto disputa uma repescagem.
É ruim a interrupção de um trabalho na metade, pois o treinador sempre imagina que pode haver um momento de recuperação, de melhoria, de virada. Não tenho dúvida nenhuma de que Dunga acredita em seu trabalho. Infelizmente, neste momento, ele é minoria absoluta.
O Brasil, nesta Copa América, antes de perder dos peruanos com uma atuação medíocre, empatou por 0 a 0 com o Equador, na estreia, em performance igualmente medíocre (só não perdeu porque um gol legal dos equatorianos foi anulado), e goleou por 7 a 1 o inexpressivo Haiti (apenas para nos fazer relembrar a maior vergonha da história da seleção, a derrota por esse placar para a Alemanha, na Copa de 2014, no Mineirão).
A culpa não é só de Dunga.
No gol do Peru, por exemplo, a defesa toda falhou, coletiva e individualmente, na marcação. Os nomes estão aqui, na ordem em que falharam ao não conseguir parar o ataque rival, que avançou sem resistência: Filipe Luís, Miranda, Filipe Luís de novo, Gil e Daniel Alves, que disse, com lucidez, que o torcedor não suporta mais ver a seleção decepcionar.
E o que dizer do setor ofensivo? Eis os nomes deles: Elias, Renato Augusto, Willian, Philippe Coutinho, Lucas Lima e Gabriel (depois Hulk). Diante do Peru, as estatísticas mostram que o Brasil chutou 12 vezes, sete delas na direção certa. O goleiro Gallese fez uma defesa de certa dificuldade, no início do jogo, em chute de Gabriel, o Gabigol. Os outros arremates não assustaram.
Mas a culpa é principalmente de Dunga.
Não por a seleção ter sofrido um gol. Mas por não conseguir marcar pelo menos dois – no Peru, que não é nenhum suprassumo. Por ser um sofrimento a criação de jogadas. Por praticar um futebol arrastado e sem inspiração.
Como pode um Lucas Lima não se cansar de deixar os companheiros na cara do gol quando atua pelo Santos e na seleção ter desempenho pífio? Como pode um Willian ser uma ameaça constante a retaguardas adversárias no Chelsea e render quase nada com a camisa amarela?
São só dois exemplos. Pois todos os jogadores, à exceção de Gil e Miranda (que já não vivem boa fase faz meses), jogam na seleção bem menos do que em suas equipes. A diferença é gritante.
Então, das duas uma: ou fazem corpo mole (prefiro não acreditar nisso ainda, pois sou do tempo em que vestir a camisa da seleção é o maior orgulho ao qual um futebolista pode almejar) ou estão mal treinados taticamente.
Porque se a questão não é física (não parece ser), não é técnica (ninguém desaprendeu a jogar) e não é emocional (não teve nenhuma Alemanha pela frente), então só pode ser tática. E, se é tática, a responsabilidade é 100% do treinador.
A não ser que Dunga venha a público dizer claramente algo nesta linha, “pedi para fazerem A, fizeram Z, e por isso não deu certo”, terceirizando o fracasso, ou então é evidente que a seleção é um fiasco tático porque ele, Dunga, não trabalhou direito essa parte.
Taticamente não se vê nada na atual seleção. Não há uma tabela, não há uma triangulação, não há uma jogada de linha de fundo, não há uma jogada ensaiada. Não há nada.
E aí se fica na dependência da individualidade, de alguém estar inspirado e resolver.
Neymar, que não atuou nesta Copa América, é solução? Sim, mas depender só dele é arriscado demais. Até porque há quem o ache mascarado, cai-cai, supervalorizado.
Não há clima para Dunga continuar. Após a eliminação, Carlos Eduardo Lino, comentarista do SporTV, disse que a seleção jogou dois anos fora, em alusão ao tempo do treinador à frente da equipe. É uma constatação correta. Com Dunga, a seleção involuiu.
A meu ver, Tite, do Corinthians, o melhor técnico do Brasil desde 2011, deveria ter assumido o cargo deixado por Felipão depois da Copa de 2014. É um estudioso do futebol, preocupa-se em acompanhar a evolução do esporte, sabe trabalhar a parte tática como poucos.
Se Dunga cair, e a pressão (da imprensa e da opinião pública) para que isso ocorra será imensa nas próximas horas, Tite é o mais indicado para salvar a seleção.
Sim, Tite, se for convidado e aceitar, será encarado como o salvador da pátria. Estará ciente disso.
Mas há um entrave político. Ele já declarou que, “com esses caras que estão no comando (da Confederação Brasileira de Futebol), eu não vou”.
A presidência da CBF é ocupada por Marco Polo Del Nero, denunciado pelo FBI (a Polícia Federal dos EUA) por participação em esquema de recebimento de propina na venda de direitos de TV de competições no Brasil e no exterior.
Deixo aqui um apelo: Tite, se for possível, reveja sua posição. Obtenha carta branca da direção da CBF (é o mínimo que se espera que a cartolagem lhe dê) e faça da recuperação da dignidade da seleção seu objetivo de vida.
Isso exigiria o desligamento do Corinthians. Uma escolha dificílima. A nação corintiana entenderia? Provavelmente não, já que o torcedor brasileiro costuma quase sempre colocar a paixão clubística acima da pela seleção.
Que Tite convença a Fiel. Que diga que será por um bem maior. A salvação de um dos maiores patrimônios que o Brasil tem e que caiu em desgraça: a seleção brasileira de futebol.
Em tempo: A Copa América fez neste fim de semana uma vítima entre os treinadores das seleções eliminadas. O argentino Ramón Díaz se demitiu do Paraguai depois da derrota de sábado (11) para os EUA, por 1 a 0. Durou um ano e meio no cargo.