Clube da 3ª divisão italiana vive seu conto de fadas
Qual é a chance de o Confiança, de Sergipe, passar pelo Palmeiras ou pelo São Paulo em um mata-mata de Copa do Brasil?
E a de o Tombense, de Minas Gerais, superar o Fluminense ou o Santos na mesma situação?
Na Itália, o Alessandria, clube da Terceirona, terra do célebre escritor Umberto Eco, tentará a partir desta terça (26) fazer acontecer o improvável: derrubar o poderoso Milan em uma das semifinais da Copa da Itália.
A possibilidade é ínfima, devido ao desnível técnico e financeiro. Os elencos dos clubes de primeira divisão (no caso dos brasileiros citados, são os que disputaram as semifinais da edição de 2015) são teoricamente muito mais gabaritados na comparação com os da terceira divisão.
Se bem que o Alessandria já fez o improvável recentemente, e não uma vez, mas duas.

O Milan será o terceiro time da elite do país que o Alessandria desafiará nesta Copa da Itália.
Eliminou em fases anteriores o Palermo, por 3 a 2, e o Genoa, por 2 a 1 (na prorrogação). Os dois triunfos ocorreram como visitante, nos dias 2 e 15 de dezembro, respectivamente.
Depois desses dois testes de fogo, encarou nas quartas de final, de novo fora de casa, o Spezia, da segunda divisão, que tinha eliminado a Roma.
Ganhou por 2 a 1, de virada, no último dia 18, com gols aos 38 minutos e 47 minutos do 2º tempo (ambos do atacante Bocalon), e se tornou o primeiro clube da terceira divisão a alcançar uma semifinal de Copa da Itália desde o Bari, em 1983/1984.

Existem muitos contos de fada no futebol, e este, do Alessandria, é mais um a ser acompanhado.
O Milan faz um campeonato medíocre na Série A, está fora das competições europeias, e a conquista da Copa da Itália pode salvar sua temporada.
O rubro-negro conta em seu elenco com 16 jogadores não italianos, entre eles os brasileiros Alex (zagueiro) e Luiz Adriano (atacante). Ganhou a Copa da Itália cinco vezes, a última em 2003.
O Alessandria tem só três gringos no elenco, todos defensores: o croata Celjak, o argentino Morero e o uruguaio Sosa. Nenhum foi convocado uma única vez para as seleções de seus países.
O time conta com um brasileiro que costuma ser escalado como titular, apesar de não ter jogado nem contra o Genoa nem contra o Spezia. O meia Adriano Mezavilla, de 1,85 m, nascido em Maringá (PR), tem dupla cidadania e atua em clubes da Itália desde 2002. Hoje está com 33 anos.
O Milan é franco favorito nesse duelo, em jogos de ida e volta. O primeiro hoje, no estádio Olímpico de Turim (a 90 km de Alessandria), pois a capacidade do campo do Alessandria é pequena – não chega a 6.000 torcedores. A segunda partida será em Milão, no dia 29 de fevereiro.
Porém Palermo, Genoa e Spezia também eram favoritos e foram surpreendidos. Tanto que o lateral milanista Abate deu o alerta: “O Alessandria não deve ser subestimado”.
De fato, os jogadores do azarão estarão hipermotivados. Não só pela busca pela final. Pode ser a chance de boas atuações lhes abrirem as portas de clubes mais portentosos, o que significará realização profissional e financeira.
A ESPN exibe Alessandria x Milan, às 18 horas.
Em tempo 1: Gianni Rivera, Il Bambino de Oro (O Garoto de Ouro), um dos melhores jogadores italianos de todos os tempos (foi vice-campeão na Copa do Mundo de 1970 e ganhou a Bola de Ouro em 1969), é cria do Alessandria e um dos maiores craques da história do Milan. Sobre o duelo, disse à “Gazzetta dello Sport”: “Espero que o Milan chegue à Copa dos Campeões (da Europa) acabando em boa colocação no Italiano e que o Alessandria possa avançar na Copa da Itália. Eu ficaria feliz assim”.
Em tempo 2: Se o Alessandria, fundado em 1912, conseguir ir à decisão da Copa da Itália (contra Juventus ou Inter de Milão), não será uma façanha inédita. Em 1936, chegou lá, mas não foi campeão. Perdeu para o Torino.