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A empolgação é vermelha, a decepção é laranja

Luís Curro

13 de outubro de 2014. Eliminatórias da Eurocopa da França-2016. Grupo A.

Em Riga, a visitante Turquia empata com a Letônia, por 1 a 1. Passados três jogos, os turcos obtinham seu primeiro ponto, depois de derrotas para Islândia e República Tcheca. Ainda faltavam sete jogos pela frente, e a classificação estava bem distante para uma seleção que disputou a última Euro em 2008 e a última Copa do Mundo em 2002.

Em Reykjavik, a visitante Holanda perde de 2 a 0 da Islândia. Passados três jogos, os holandeses somavam três pontos, após essa derrota e a para a República Tcheca e o triunfo ante o Cazaquistão. Seriam ainda sete partidas pela frente, mas a classificação não parecia ser um problema para a atual terceira colocada na Copa do Mundo, que desde 1988 sempre esteve na Euro. Afinal, das seis seleções no grupo, duas se classificavam direto e a terceira colocada ainda teria chance em uma repescagem.

13 de outubro de 2015. Rodada final do Grupo A das eliminatórias da Euro.

Em Amsterdã, na capital holandesa, a seleção anfitriã, após uma campanha de 4 vitórias, 1 empate e 4 derrotas, joga a vida diante dos já classificados tchecos. Com 13 pontos, não depende só de si. Precisa, diante de 48 mil torcedores na Amsterdam Arena, vencer e ainda torcer para que a Turquia tropece.

Em Konya, cidade turca, a seleção anfitriã depende apenas de suas forças para avançar. Com 4 vitórias, 3 empates e 2 derrotas, soma 15 pontos, e a repescagem é uma realidade possível. O adversário é a já classificada Islândia. São 39 mil torcedores no estádio Konya Atatürk.

Jogos no mesmo horário. Seria uma noite de expectativa e tensão.

Jogadores turcos festejam em Konya a classificação para a Euro-2016  (13.out.2015/AFP)
Jogadores turcos festejam em Konya a classificação para a Euro-2016 (13.out.2015/AFP)

Na Turquia, aos 44 minutos do 2º tempo, Selçuk Inan, meia de 30 anos do Galatasaray, bate falta com perfeição, no ângulo do goleiro Kristinsson. O estádio explode em júbilo.

O melhor estava por vir. Ao encerramento da partida, os turcos tomam conhecimento de que, devido aos resultados de outras partidas, terminavam com a melhor campanha entre os terceiros colocados dos nove grupos, o que os classificava para a Eurocopa sem a necessidade de disputar o confronto de repescagem.

O capitão Arda Turan, camisa 10 da Turquia e reforço do Barcelona para esta temporada (defendia antes o Atlético de Madri), não se aguentava de felicidade, ajoelhado e deitado no gramado.

A vaga, obtida com um jogador a menos (Töre foi expulso 12 minutos antes do gol de Inan), não significava alegria só para o time ou para os torcedores no estádio, mas para um país abalado pelo ataque terrorista que três dias antes deixara pelo menos 97 mortos na capital, Ancara.

“Minhas condolências ao povo da Turquia, com quem dividimos essa dor”, afirmou Turan. “Fico feliz de podermos oferecer algum alento às pessoas de nosso país.”

A imprensa turca definiu o feito como um “milagre”.

Wijnaldum e Sneijder após a derrota da Holanda em Amsterdã (Toussaint Kluiters - 13.out.2015/Reuters)
Wijnaldum e Sneijder após a derrota da Holanda em Amsterdã (Toussaint Kluiters – 13.out.2015/Reuters)

Na Holanda, com direito até a gol contra (de cabeça, do atacante Van Persie, o mesmo que fez golaço de cabeça contra a Espanha na Copa no Brasil, no ano passado, e até concorreu a prêmio da Fifa), a Laranja perde de 3 a 2. Está fora.

No país, decepção era a palavra mais pronunciada, seguida por vergonha e pesadelo.

A não classificação era algo tão inesperado que se iniciou uma espécie de caça às bruxas para explicar o inexplicável.

Várias hipóteses surgiram.

Mudança de treinador – Guus Hiddink substituiu Louis van Gaal, hoje técnico do Manchester United, após a Copa de 2014 e depois de alguns tropeços foi substituído por seu auxiliar, Danny Blind. Não deu certo.

Troca de esquema tático – A Holanda teve sucesso na Copa com um 5-3-2, e, nas eliminatórias para a Euro, Hiddink tentou resgatar o 4-3-3 de tempos áureos da Laranja. Não deu certo.

Falta de pulso do técnico – Van Gaal, de acordo com a mídia esportiva holandesa, tinha personalidade mais adequada, no estilo linha dura, para lidar com os jovens talentos e com os veteranos, mantendo-os motivados e focados, diferentemente de Hiddink, afeito a um ambiente mais descontraído, mais solto. Não deu certo.

Decadência de Van Persie e de Sneijder – Aos 32 anos, o artilheiro não rendeu nas eliminatórias, tendo marcado somente três gols ao longo da campanha (atuou em oito partidas); o mesmo ocorreu com o meia de 31 anos, que fez só um gol (jogou em todos os dez jogos). Não deram certo.

Contusões a granel – Robben, Vlaar, Cillessen, Janmaat, Willems, De Vrij, Clasie, Strootman, De Jong, importantes jogadores da seleção, não estiveram disponíveis em parte das eliminatórias ou mesmo em todos os jogos, caso de Strootman. Daria certo com eles?

A conclusão é que a soma de todos esses fatores contribuiu em determinada dose e impediu a Holanda de obter a vaga para a Euro.

Chato, pois o futebol da Laranja é sempre muito alegre, veloz, ofensivo, repleto de gols.

E futebol bonito sempre faz falta em qualquer competição.

Em tempo: Que os cartolas holandeses sentem, conversem e ajam para que nas eliminatórias para a Copa da Rússia-2018 não se viva um déjà vu.

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