Islândia faz bonito dentro e fora das quatro linhas
A Islândia merece aplausos neste início de setembro de 2015.
Esse país localizado no Atlântico Norte, entre a Europa continental e a Groenlândia, brilha dentro e fora dos campos de futebol. Dá exemplo.
Neste domingo (6), três dias depois de derrotar a Holanda em Amsterdã por 1 a 0, os islandeses, apelidados de “Nossos Garotos”, atuaram na capital do país, Reykjavík, e, ao empatar por 0 a 0 com o Cazaquistão, asseguraram pela primeira vez a classificação para a Eurocopa. Estarão na França em 2016.
Será, segundo informação do jornal inglês “The Guardian”, o país com a menor população a participar da principal competição europeia de nações.
A Islândia tem cerca de 329 mil habitantes – aproximadamente a população de Blumenau, a terceira maior cidade de Santa Catarina, conforme estimativa do IBGE. A Eslovênia era a detentora do “recorde”. Ao se classificar para a Eurocopa de 2000, tinha perto de 2 milhões de habitantes.
O último resultado levou os islandeses a 19 pontos no Grupo A das eliminatórias para a Euro-2016. Em oito partidas (ainda faltam duas), foram seis vitórias, um empate e uma derrota, para a República Tcheca, que, com os mesmo 19 pontos, também está classificada.
Turquia e Holanda ficaram para trás – uma dessas seleções, a que chegar em terceiro lugar, disputará uma vaga na Euro via repescagem.
O melhor jogador da seleção islandesa é Gylfi Sigurdsson, 25 anos, que atua no Swansea, clube do País de Gales que joga na Premier League – está na quarta colocação no Campeonato Inglês.
O meia marcou 5 dos 15 gols de sua seleção nas eliminatórias para a Euro. É técnico e muito bom na finalizações e nas bolas paradas.

Dos 23 jogadores que os técnicos Heimir Hallgrímsson e Lars Lagerbäck tiveram à disposição contra os holandeses e os cazaques, apenas dois jogam no Campeonato Islandês. Ambos são reservas, e um deles é goleiro e tem 40 anos.
E é isso mesmo: são dois treinadores, o sueco Lagerbäck, de 67 anos, e o islandês Hallgrímsson, de 48. O que não é novidade para o primeiro, que já dividiu o comando da seleção da Suécia com o compatriota Tommy Soderberg nas eliminatórias da Copa do Mundo de 2002. E, como agora, teve sucesso.
Recusou, porém, o rótulo de herói da Islândia. “Não, eu não diria isso. Pessoas como Nelson Mandela e Martin Luther King são heróis. Eu sou apenas um treinador de futebol.”
Se dentro das quatro linhas a lição é de humildade, fora é de solidariedade.
Um dos maiores dramas do planeta na atualidade é a situação dos milhares de refugiados asiáticos e africanos que chegam pelo mar a países da Europa em busca de uma vida mais digna. Fogem da fome, da miséria, da guerra. E geralmente não são bem-vindos.
Há dois meses, por exemplo, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, posicionou-se contra os imigrantes ilegais, ameaçando-os de deportação.
Ja os islandeses oferecem seus lares para acolher essas pessoas. A própria população pressiona as autoridades do país a aumentar a cota para abrigar refugiados.
Há espaço na Islândia, já que a densidade demográfica é reduzida. E, mais que isso, há coração.
Um povo assim não precisa mesmo que os treinadores de sua seleção nacional sejam declarados heróis. A generosidade e o altruísmo fazem o próprio povo emanar heroísmo.