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As cartadas de Minguella

Alex Sabino

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Alguns fatores fizeram de Josep Maria Minguella um empresário de contornos quase mitológicos no futebol mundial. Os nomes famosos que agenciou contam, é claro. Mas ele sempre esteve disposto a ir ao limite da paciência quando o prêmio era levar um craque para o Barcelona. Foi assim com Diego Maradona. Foi assim com Lionel Messi.

Não apenas eles. Minguella, hoje aposentado aos 73 anos, levou para o clube onde foi candidato a presidente e até auxiliar-técnico, Saviola, Romário, Stoichikov e Rivaldo. Apenas para ficar entre os mais famosos.

“Veja o caso de Maradona, por exemplo. Eu o conhecia desde 1977. Fui assisti-lo com a camisa do Argentinos Jrs. Era um fenômeno. Só consegui fechar negócio em 1982”, confessa o agente, em entrevista à Folha.

Eram tempos duros na América do Sul e Diego era orgulho nacional. Imagem que poderia ser explorada pelo regime militar. As conversas, em alguns momentos, passaram por altas autoridades do país e até pelo presidente da República, o general Videla, queria mantê-lo no país.

Foi um jogo de convencimento que durou cinco anos. Tentativa e erro. A vitória chegou apenas cinco anos mais tarde. Embora não tenha oferecido uma recompensa de acordo com o que todos os torcedores blaugranas esperavam. Ele ficou dois anos, teve uma fratura de tornozelo e vendido para o Napoli. “Diego poderia ter mudado a história do Barcelona. Fui contra a venda. Ele sozinho transformou o Napoli quase imediatamente”, lamenta.

Sócio do Barça há mais de 60 anos, ele trabalhou com outros atletas. Intermediou transações e teve de dizer a muitos pais, mães e colegas empresários que os filhos/parentes/agenciados não eram bons o bastante para um dos maiores clubes do mundo. Pouco importa que eles dissessem terem encontrado um “novo Maradona”. Até que dezesseis anos mais tarde…

“Um amigo da Argentina me mandou uma fita de vídeo. Era de um garoto muito pequeno jogando nas ruas de Rosário. Fazia coisas fora do normal”, se recorda.

Era Lionel Messi. Na verdade, a oferta não era de um “amigo”. Minguella trabalhava associado a empresa que tinha uma rede de escolas de futebol em San Martín e Rosário. Foram eles que descobriram o atacante.

A negociação foi bem mais fácil. O menino de 12 anos precisava de um tratamento hormonal que custava quase US$ 1 mil por mês. Virou uma das histórias mais conhecidas do futebol mundial. O Newell’s não quis bancar. O Barcelona, sim. Lionel, pai, mãe e família embarcaram para a Espanha.

Lionel fez provas em Barcelona. Agradou, mas tinha oposição de mais de um técnico das categorias de base do clube. Questionavam se valia a pena manter por lá um jogador tão baixo e franzino.

A família de Messi queria uma assinatura imediata de contrato. O Barcelona resistia. No meio da disputa, estava Minguella, tentando não perder o jogador e convencer os dirigentes do clube que aquele menino não poderia voltar para a Argentina de jeito nenhum.

Passaram-se semanas e nada. “A família dele começou a ficar nervosa porque nada acontecia e haviam deixado tudo para trás em Rosário”, conta ele.

Quase sem argumentos, a não ser pedidos de paciência, o empresário deu a cartada. Levou o pai de Messi, Jorge, para um almoço no Club Tenis Pompeia, onde Minguella era presidente. Levou a tiracolo Carles Rexach, dirigente catalão que também defendia a permanência do garoto.

Pegaram um papel em branco e escreveram um contrato para Jorge Messi. Assinaram e entregaram, como garantia que Lionel ficaria no Barcelona e jogaria pelo clube com salário. Com o “documento” (que não tinha valor legal algum), ele concordou em permanecer na cidade.

“Era um contrato para uma criança, na verdade. Mas foi a maneira que encontramos para mostrá-lo que daríamos um jeito para o filho dele vestir a camisa do Barcelona.”

Como dizem por aí… O resto é história.

 

* Josep Maria Minguella é um dos patrocinadores do site Fieldoo, que busca descobrir novos talentos no futebol. 

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