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Equatoriano faz gol que Pelé não fez na Copa de 1970

Luís Curro

“O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé. Aquele gol que gostaríamos tanto de fazer, que nos sentimos maduros para fazer, mas que, diabolicamente, não se deixa fazer. O gol.” (Carlos Drummond de Andrade)

Nesse trecho de um texto escrito em 1969, relacionado ao milésimo gol do Rei do Futebol, o excepcional Drummond (1902-1987) expunha o quão maravilhosos e únicos eram os gols marcados por Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.

Porém não só pelos belos e frequentes gols Pelé se celebrizou.

Na Copa do Mundo de 1970, no México, quando o Brasil conquistou o tricampeonato mundial, ele também ganhou fama (mais fama) pelos gols que não fez.

Foram três, todos no estádio Jalisco, em Guadalajara.

  1. Contra a Tchecoslováquia, do goleiro Viktor (um chute de antes do meio-campo)
  2. Contra a Inglaterra, do goleiro Banks (uma cabeçada “indefensável”)
  3. Contra o Uruguai, do goleiro Mazurkiewicz (um drible desconcertante no arqueiro)

Foram jogadas tão espetaculares que quem as viu espera que um dia se concretizem, da forma mais semelhante possível dos lances originais. Espera, simplesmente espera, acontecer.

O quase gol de Pelé em Guadalajara, em 1970 (Reprodução/YouTube)
O quase gol de Pelé em Guadalajara, em 1970 (Reprodução/YouTube)

O foco, neste momento, é o gol perdido número um.

Já vi gols do meio de campo. Rivaldo, campeão mundial na Copa de 2002, fez um quando defendia o Mogi Mirim. Roger (hoje comentarista do SporTV), marcou um pelo Fluminense. Diego, hoje no Flamengo, deixou essa marca pelo Werder Bremen, da Alemanha, assim como Diego Souza (atualmente no Sport Recife) pelo Palmeiras. Apenas para citar alguns.

Foram todos belos gols, mas nunca tinha visto um lance parecidíssimo, de alguém que tivesse conseguido, quase da mesma posição, fazer esse gol que Pelé não fez.

Isso até esta quarta (7), quando um equatoriano executou o portento na Arena do Grêmio, em Porto Alegre, o estádio que abrigava a partida decisiva da Copa do Brasil.

Seu nome é Juan Cazares e ele tem 24 anos.

Até então, para quase todos os brasileiros, à exceção dos torcedores do Atlético-MG e algumas dezenas de fanáticos pelo ludopédio, Cazares era um ilustre desconhecido, como tantos futebolistas estrangeiros que estiveram, estão ou estarão nos gramados tupiniquins.

“Até então” porque a final da Copa do Brasil estava sendo televisionada em rede nacional pela Globo, a principal emissora do país. De Norte a Sul, de Leste a Oeste, milhares de televisões estavam sintonizadas na decisão, até por ser a primeira partida importante realizada no país depois da tragédia com o voo da Chapecoense que deixou de luto o futebol.

Nos acréscimos, Cazares viu o goleiro Marcelo Grohe, do Grêmio, adiantado e disparou um petardo, do campo defesa do Galo, a exemplo do que Pelé fez na partida diante dos tchecos, a primeira do Brasil na Copa de 1970.

Gol de Cazares contra o Grêmio, em Porto Alegre (Reprodução/YouTube)
Gol de Cazares contra o Grêmio, em Porto Alegre, em 2016 (Reprodução/YouTube)

A principal semelhança? O goleiro, surpreendido (não havia tempo para haver desespero, apenas estupefação), correndo para tentar evitar o inevitável – não chegaria a tempo de fazer a defesa.

As diferenças? Uma, minúscula: Cazares estava a centímetros do círculo central quando chutou (Pelé estava dentro do círculo). Outra, gigante: a bola, na tentativa de Cazares, estufou a rede.

Do alto de seu 1,71 m, quase a mesma altura de Pelé (1,73 m), Cazares tornou-se, por três míseros segundos, maior que o maior.

Três segundos que valerão por uma vida: Cazares fez o extraordinário, fez “o” gol.

E entrou para a história.

Em tempo: O golaço de Cazares só serviu para impedir a derrota do Atlético-MG, já que o jogo terminou 1 a 1. Como o time tinha perdido em Belo Horizonte o confronto de ida por 3 a 1, o campeão da Copa do Brasil foi o Grêmio.

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