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Inglaterra e Escócia decidem confrontar Fifa e usar braçadeiras com papoula

Luís Curro

Inglaterra e Escócia estão no mesmo grupo das eliminatórias para a Copa de 2018, na Rússia, e duelarão na sexta da semana que vem, dia 11, no estádio de Wembley, em Londres.

Nessa data o Reino Unido comemora o Armistice Day, em referência a 11 de novembro de 1918, o dia em que a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) chegou ao fim. Era o cessar-fogo, o armistício.

Essa guerra, que opôs Reino Unido, França e Rússia (mais aliados) a Alemanha, Áustria e Hungria (mais aliados) deixou mais de 9 milhões de soldados mortos, entre eles, obviamente, britânicos.

Para homenagear os que perderam a vida no sangrento confronto, as pessoas no Reino Unido costumam usar no peito, sobre a roupa, nos primeiros dias de novembro, uma flor vermelha, a papoula. Não a flor natural, mas uma artificial, como se fosse um distintivo.

E por que a papoula?

O site elondres.com, de serviços turísticos e de imigração, traz uma explicação: “Após a 1ª Guerra Mundial, nos campos destroçados pelos combates começaram a nascer flores de papoula (“poppy”, em inglês), que logo ficaram relacionadas com a ideia de ‘renascimento’”.

Mulher joga papoulas na Trafalgar Square (praça Trafalgar), em Londres, do Dia do Armistício, dois anos atrás (Andrew Cowie - 11.nov.2014/AFP)
Mulher joga papoulas na Trafalgar Square, em Londres, do Dia do Armistício, dois anos atrás (Andrew Cowie – 11.nov.2014/AFP)

O certo é que os britânicos levam essa tradição muito a sério. Tanto que as federações de futebol de Inglaterra e Escócia decidiram que, na partida entre as seleções, cada jogador usará uma braçadeira com a papoula bordada nela.

E, para isso, vão desafiar a Fifa e se sujeitar a uma eventual punição. Há a interpretação, negada pelas autoridades do Reino Unido, de que a papoula é um símbolo político. E o órgão máximo do futebol proíbe nos uniformes dos atletas qualquer mensagem pessoal, política e religiosa.

Diz a Fifa, na norma 4 das Regras do Jogo, sobre os uniformes: “O uniforme não poderá conter nenhuma mensagem, imagem ou slogan político, religioso ou pessoal. (…) Em caso de alguma violação, o jogador e/ou o clube serão punidos pelo organizador da competição, pela federação nacional ou pela Fifa”.

“O Mundo é uma Bola” entrou em contato com a Fifa para saber se a entidade permitiria, em caráter de exceção, o uso de braçadeiras com a papoula, e um porta-voz deu esta resposta:

“A Fifa respeita o significado da comemoração do Remembrance Day (Dia da Lembrança) no dia 11 de novembro de cada ano. As Regras do Jogo (…) são aplicáveis a todas as 211 federações associadas (a Fifa). A relevante Regra 4 atesta claramente que o uniforme dos jogadores não pode conter nenhuma mensagem política, religiosa ou comercial. As regras são aplicadas uniformemente nos casos de solicitações similares de qualquer membro associado para a celebração de eventos históricos similares”.

Britain's Prime Minister Theresa May leaves Downing Street to attend the weekly Prime Ministers' Questions session, in parliament in London, Wednesday, Nov. 2, 2016. Theresa May has condemned international soccer organization FIFA for its ban on players wearing the Britain’s remembrance poppy. She told Parliament on Wednesday that the FIFA decision was “utterly outrageous.” (AP Photo/Kirsty Wigglesworth) OR
A premiê Theresa May, antes de afirmar que a posição da Fifa de não permitir a papoula no uniforme é “ultrajante” (Kirsty Wigglesworth – 2.nov.2016/Associated Press)

O veto da Fifa à papoula gerou reação da primeira-ministra britânica, Theresa May.

“É absolutamente ultrajante”, disse ela. “Nossos jogadores de futebol querem reconhecer e respeitar aqueles que deram a vida pela nossa segurança. Eu considero absolutamente certo que eles possam fazer isso.”

May foi além: “A Fifa, antes de nos dizer o que fazer, deveria limpar a própria casa”. Alusão indireta ao escândalo de corrupção que abalou, e ainda abala, a imagem da entidade.

Não que a Inglaterra seja imune à falta de escrúpulos no futebol. No mês passado, o técnico do English Team, Sam Allardyce, deixou o cargo após uma denúncia.

De toda forma, o recado da premiê está dado. Caso a Fifa não reveja sua posição, tudo indica que os 22 jogadores entrarão em campo exibindo as papoulas.

E então saberemos como o árbitro se posicionará.

A regra o orienta a solicitar ao infrator (no caso serão mais de duas dezenas) que deixe o campo e retorne com o uniforme nas devidas condições. Ele pode até proceder assim, mas deve ouvir dos respectivos capitães um “não, só jogaremos assim”.

Para evitar um problema momentâneo maior, afinal haverá 90 mil torcedores lotando Wembley e a não realização do jogo gerará revolta, a partida será jogada normalmente.

Depois, a Fifa deliberará sobre a “insubordinação” e decidirá qual a punição para ingleses e escoceses.

Como há um precedente, e não muito tempo atrás, de relaxamento da regra (em amistoso em 2011, os ingleses usaram braçadeiras com a papoula em amistoso contra a Espanha), é possível que a entidade não faça nada.

Só que, se não fizer nada, terá de rasgar as Regras do Jogo. Ou, no mínimo, colocar um asterisco que avise que a papoula venceu e está liberada.

Capitão da Inglaterra, Lampard, com braçadeira com o símbolo da papoula no braço esquerdo, faz gol na Espanha em amistoso em 2011 (Ian Kington - 12.nov.2011/AFP)
Capitão da Inglaterra, Lampard, com tarja com a papoula no braço esquerdo, faz gol na Espanha (Ian Kington – 12.nov.2011/AFP)

Em tempo: Ainda faltam alguns dias para Inglaterra x Escócia. O que a Fifa deveria fazer? Se antecipar. Avisar às federações de Inglaterra e Escócia que, se a regra for descumprida, a punição será X (ou Y, ou Z). Tendo essa informação, os cartolas poderiam avaliar se a sanção é ou não aceitável e, então, repensar (ou não) a decisão de levar as papoulas a Wembley.

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