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Ferguson tinha um ‘exército de escravos’, escreve ex-jogador do Manchester United em biografia

Luís Curro

Aposentado há três anos e cinco meses, Alex Ferguson comandou o Manchester United por 27 anos seguidos (de 1986 a 2013) e conquistou nada menos que 38 títulos, entre eles 13 do Campeonato Inglês, cinco da Copa da Inglaterra, quatro da Copa da Liga Inglesa, dois da Liga dos Campeões da Europa, um da Copa Intercontinental e um do Mundial de Clubes da Fifa.

Com “Fergie”, o Man United tornou-se o maior ganhador do Campeonato Inglês, ultrapassando o arquirrival Liverpool – os dois times, aliás, enfrentam-se nesta segunda (17) pela Premier League. Os Red Devils somam 20 troféus, e os Reds, 18.

Sem dúvida, o escocês, agraciado em 1999 pela rainha Elizabeth, do Reino Unido, com o título de “sir”, foi um dos grandes treinadores da história do futebol.

Sir Alex Ferguson, treinador do Manchester United por 27 anos, no lançamento de sua autobiografia (Wang Lili - 22.out.2013/Xinhua)
Sir Alex Ferguson, treinador do Manchester United por 27 anos, no lançamento de sua autobiografia (Wang Lili – 22.out.2013/Xinhua)

E foi também, de acordo com um dos jogadores treinados por ele nos anos 1990, um “controlador maníaco” de um “exército de escravos”.

Em sua autobiografia, o dinamarquês Mads Timm, de 31 anos, reforçou o que muita gente que acompanha futebol internacional já sabe: Ferguson sempre foi um tremendo linha-dura que não hesitava em tratar agressivamente os atletas que não rendiam nos treinos ou jogos e que tinham algum tipo de, na visão do treinador, conduta não adequada.

Seus berros cara a cara ficaram conhecidos como “hairdryer”(secador de cabelos). Por quê? Porque Ferguson ficava tão próximo do rosto da “vítima” para despejar os decibéis que seu bafo quente seria capaz de secar-lhe os cabelos.

“Ele era um maníaco por (estar no) controle, e frequentemente motivava os comandados pelo medo. Funcionou com muitos dos jogadores daquela época”, disse Timm, que foi atleta do United de 2002 a 2006 – a maior parte do tempo esteve emprestado e só atuou pelo time principal em uma única partida, vindo da reserva.

Entre os “escravos” de Ferguson, segundo o dinamarquês, estavam ídolos como Ryan Giggs e David Beckham, além dos irmãos Neville (Gary e Phil), todos submissos ao extremo ao chefe.

Chefe que era avesso a intimidades, especialmente de jovens que pouco conhecia.

Timm contou que, durante um treino do time de base do United, cumprimentou Ferguson chamando-o de “Alex”. Para ouvir de bate-pronto uma resposta grosseira que o deixou sem ação: “Não sou seu amigo. Sou a porra do seu patrão!”.

É possível que Timm tenha exagerado nas narrativas, afinal quer vender seu livro, mas é sabido que Ferguson tinha muitas vezes um comportamento irascível, e impressiona-me como um tratamento à base de violentas patadas tenha sido tão eficiente – indubitavelmente o United dirigido por ele é um dos clubes mais vitoriosos de todos os tempos.

Depois que Ferguson aposentou-se, os Red Devils (Diabos Vermelhos) jamais foram os mesmos, e a instabilidade do time fez a diretoria trocar de treinador três vezes em três anos – o atual é o português José Mourinho.

Torcedor do Manchester United com cartaz com os dizeres "Exército vermelho e branco e Ferguson", na última partida em que Alex Ferguson dirigiu o Manchester United, em 2013 (Eddie Keogh - 19.mai.2013/Reuters)
Torcedor do Manchester United com cartaz com os dizeres “Exército vermelho e branco de Ferguson!”, no último jogo em que o técnico dirigiu o time (Eddie Keogh – 19.mai.2013/Reuters)

Em tempo 1: Com uma carreira para lá de insignificante (hoje está em um clube pouco expressivo de seu país), Mads Timm é um exemplo de que qualquer um que tenha tido contato com famosos, e tenha histórias dessas celebridades para contar, está apto a lançar uma autobiografia – e obter repercussão com ela.

Em tempo 2: Alex Ferguson, atualmente com 74 anos e que sempre se reconheceu com um disciplinador, não se pronunciou até agora a respeito do que Mads Timm relatou – e é muito improvável que o faça. Sobre suas “explosões”, ele disse ao jornal “Daily Telegraph”, há cerca de um ano, que eram necessárias e calibradas. “Não há nada de errado em perder a paciência pelos motivos certos, para deixá-los (jogadores) conscientes: nós somos o Manchester United.” 

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