Bicampeão olímpico dos 5.000 m e 10.000 m quer ser preparador físico do Arsenal
Ganhar os 5.000 metros e os 10.000 metros em duas Olimpíadas consecutivas não é para qualquer corredor. É, até hoje, para apenas dois.
Um deles é o britânico Mo Farah, que obteve o feito nos Jogos de Londres-2012 e do Rio-2016. O outro é o finlandês Lasse Virén, ouro nas distâncias nas Olimpíadas de Munique-1972 e de Montréal-1976.
Minha atenção vai neste momento para o primeiro.
Mohamed Muktar Jama Farah, nascido em Mogadíscio, na Somália, 33 anos atrás, mudou-se para o Reino Unido, onde vivia seu pai, aos oito anos, e começou a desenvolver suas aptidões esportivas na escola.
Seu sonho não era seguir carreira no atletismo, mas sim ser jogador de futebol. Mais especificamente, ponta direita. Mais especificamente ainda, ponta direita do Arsenal, time pelo qual torcia – e torce. Seaman, Vieira, Petit, Bergkamp, Kanu e Henry foram alguns dos ídolos do então adolescente apelidado Mo.

Mo Farah, porém, estava longe de ser um craque. Chamava a atenção dos professores por sua velocidade e pelo fôlego. Foi encorajado a trocar o correr atrás da bola pelo correr sem a bola, a substituir os campos pelas pistas.
Daí para a frente, tornou-se um promissor fundista, não parando de triunfar a partir dos últimos anos da adolescência. Competia em corridas a partir dos 1.500 m até os 42.195 m da maratona. Mas suas especialidades se tornaram os 5.000 m e os 10.000 m.
Já trintão (e antevendo o óbvio, não correrá em alto nível para sempre), nesta semana Mo falou sobre um novo desejo, também relacionado ao Arsenal. Já que não deu para defender as cores dos Gunners jogando, quer um emprego no clube fora das quatro linhas: lançou-se como candidato a preparador físico do time.
“Gosto do estilo de jogo deles, e o time tem tido vários jogadores com origens na África”, afirmou Mo Farah à “Sunday Times Magazine”. No atual elenco, o Arsenal conta com dois atletas africanos, o meio-campista egípcio Elneny e o atacante nigeriano Iwobi. “Adoraria trabalhar para o clube, talvez como preparador físico. Acredito que nas respostas que o corpo pode dar com treinamento adequado.”
Se Mo Farah um dia assumir a função, deve tratar como prioridade criar um “treinamento adequado” que previna lesões – se é que há um que possa ser criado. A enfermaria do Arsenal costuma estar cheia, muitas vezes lotada, isso há pelo menos uma década, época em que comecei a acompanhar com maior interesse o Campeonato Inglês.
O Arsenal, quase sempre, é o clube da Premier League com mais jogadores no estaleiro.
Neste momento estão entregues ao departamento médico o meia Ramsey, o zagueiro Mertesacker, os atacantes Welbeck e Giroud, o volante Coquelin e o lateral direito Jenkison. Os cinco primeiros costumam ser titulares do time comandado por Arsène Wenger.

Apenas nesta temporada, que começou na metade do mês passado, também já frequentaram o DM o goleiro Cech, o lateral direito Debuchy, os zagueiros Gabriel Paulista e Mustafi e o atacante Iwobi.
Não há dúvida de que, para se vencer uma competição de pontos corridos é importante ter os jogadores o máximo possível em condição de jogo, e isso passa obrigatoriamente por uma preparação física bem feita.
A última conquista do Arsenal na Premier League foi em 2003/2004, quando Mo Farah tinha 21 anos e era ainda uma promessa no atletismo. Depois, enquanto o corredor passou a ganhar ouro atrás de ouro, os Gunners tornaram-se campeões na Premier tão somente de contusões.
Em tempo: Somente quatro esportistas da Grã-Bretanha ganharam mais ouros em Jogos Olímpicos do que Mo Farah: os ciclistas Chris Hoy e Jason Kenny, com seis altos de pódio cada um, e o ciclista Bradley Wiggins e o remador Steve Redgrave, com cinco cada um.