Don’t speak English? Chelsea is not for you
Não fala inglês? O Chelsea não é para você. Essa é a tradução do título deste post.
Deve ter sido algo assim, em um tom polido, que o dono do Chelsea, o russo Roman Abramovich, disse a Jorge Sampaoli em encontro, logicamente com a presença de um intérprete, realizado segundo o treinador argentino para discutir a possibilidade de ele comandar o clube de Londres.
De acordo com Sampaoli, campeão com o Chile na Copa América de 2015 e desempregado desde janeiro (desentendeu-se com a direção da federação chilena), ele era a opção preferida do bilionário, e não o italiano Antonio Conte (treinador da Squadra Azzurra e o mais cotado hoje), mas a barreira do idioma mostrou-se intransponível.
“Eu precisaria motivar um grupo através da comunicação. Precisaria de algum tempo para melhorar meu inglês, mas esse tipo de clube (Chelsea) não lhe dá esse tempo”, declarou à rádio argentina Vorterix o técnico careca de 56 anos.
Tenho dúvida se esse foi o xis da questão na decisão de Abramovich.
Tanto no contato com o corpo diretivo da equipe como no com os jogadores ingleses do time, Sampaoli poderia recorrer a um tradutor. Além disso, até a metade do ano, o holandês Guus Hiddink é o técnico interino do Chelsea, então o argentino teria três meses para fazer uma imersão no inglês e chegar mais bem preparado.

Supondo que tenha sido esse o fator determinante para a não contratação de Sampaoli, fica uma mensagem clara para os treinadores brasileiros: assim como em muitas outras profissões, o inglês é importantíssimo, se não essencial, na prancheta. A cada dia mais.
A concorrência no mercado de trabalho, no Brasil e no mundo, acirra-se, e falar um ou mais idiomas muitas vezes é o que determina ou não uma contratação no mundo dos negócios, em áreas de planejamento, técnicas, executivas e outras. E futebol também é negócio, certo?
Ah! Mas Luiz Felipe Scolari assumiu o Chelsea em 2008 e não falava inglês.
Em termos. Felipão não era fluente, mas “se virava”. Nos treinamentos, conseguia se comunicar no idioma local com os jogadores, fazia-se entender. O que não significou muito. Os resultados (20 vitórias, 11 empates e 5 derrotas, números não espetaculares porém dignos) não foram vistos como satisfatórios por Abramovich, e o brasileiro durou apenas sete meses na capital inglesa Londres.

Ou seja, atualmente há muito mais em jogo do que apenas passar a mensagem aos atletas.
O nível de exigência de clubes de alto padrão envolve cada vez mais um contato verbal adequado com direção, patrocinadores, mídia, enfim, com todos os interlocutores possíveis.
Assim, Sampaoli, que já mostrou competência, deveria aproveitar o tempo disponível para aprender inglês, caso almeje comandar, por exemplo, um clube de peso no Reino Unido. Não tem paciência para ou interesse em estudar? Uma ideia é se aventurar em um país menos exigente.
O já folclórico Joel Santana (ex-todos os clubes grandes do Rio de Janeiro e mais muitos outros times Brasil afora) foi contratado em 2008 pela África do Sul, sede da Copa do Mundo de 2010.
Joel se celebrizou pelo seu inglês básico, atrapalhado, misturado com o português. Suas falas eram hilárias e, muitas vezes, ele foi motivo de piada.
Porém isso não foi impedimento para que ficasse um ano e meio no comando dos Bafana Bafana (apelido da seleção sul-africana).

Se Sampaoli bater na porta da confederação da África do Sul, ou de qualquer uma do continente africano, certamente conseguirá um emprego.
Só que, para um treinador que foi finalista ao prêmio da Fifa de melhor técnico do ano em 2015 (perdeu para Luis Enrique, do Barcelona; o outro concorrente foi Guardiola, do Bayern de Munique), e cujo nome está em alta no mercado, seria quase como sumir do mapa.
Uma equipe da primeira divisão da Espanha parece a melhor opção. Atlético de Madri, que tal?
Há rumores de que o ótimo Diego Simeone, o técnico do Atlético, deixará o clube no meio do ano. Curiosamente, fala-se na opção Chelsea – seria um contrassenso, já que, como seu compatriota Sampaoli, ele não domina o inglês.
Assim como Conte, favorito a assinar com os Blues, também não é fluente em inglês. Talvez, nesse caso, Sampaoli tenha inglês “basic”, ou nem isso, e Conte, um inglês “intermediate”.
O que leva à conclusão, se a opção Conte vingar, de que a barreira do idioma pode, ainda, não ser decisiva na contratação ou não de um treinador estrangeiro na elite do futebol britânico.
Mas que é um diferencial, é.