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Clube belga pune promessa por frase homofóbica

Luís Curro

A exemplo do inglês Leicester, o Gent é uma das recentes boas surpresas do futebol europeu.

A equipe da cidade de mesmo nome, que fica na região noroeste da Bélgica, venceu em 2014/2015, pela primeira vez, a Jupiler League (Campeonato Belga) – fundado em 1864, o clube iniciou as atividades futebolísticas em 1900.

A conquista propiciou ao Gent disputar a Liga dos Campeões da Europa. Seu grupo não era dos mais complicados, não tinha nenhuma superpotência, porém o time era considerado azarão ao ser defrontado com Valencia (Espanha), Lyon (França) e Zenit (Rússia).

Pois a equipe, depois de um empate e duas derrotas, ganhou as últimas três partidas e se classificou, em segundo lugar, para a fase de confrontos eliminatórios.

Logo em sua estreia na competição, tornou-se o primeiro clube belga a avançar para os mata-matas da Champions. Mais conhecidos e vitoriosos, Anderlecht, Brugge e Standard de Liège sempre falharam em suas tentativas.

Ainda se pode dizer que o Gent se deu bem no sorteio, pois o rival, em fevereiro, será o alemão Wolfsburg, e não os superpoderosos e megaendinheirados Barcelona, Real Madrid, Bayern de Munique, Chelsea e Manchester City.

Esse é um pequeno resumo de uma história marcante no mundo da bola, que poderia continuar a ser contada abordando o orçamento diminuto do clube em relação aos demais times da Champions, relatando quem são seus atletas e o treinador, esmiuçando o histórico do time desde a sua fundação, elucidando por que é chamado de “Búfalo”.

Só que um jogador do Gent,  nascido na cidade e popular entre os torcedores da equipe, roubou a cena no fim do ano recém-acabado. Com uma atitude depreciativa. E é dele que se deve falar.

Nascido na cidade e popular entes os torcedores mais jovens do Gent, Benito Raman é um atacante promissor. Tem 21 anos e teve passagens pelas seleções sub-17 e sub-21 de seu país.

Na campanha da inédita conquista do Belga, em maio passado, marcou um gol importantíssimo, aos 42 minutos do segundo tempo, o da vitória por 3 a 2 fora de casa contra o Brugge, que havia chegado ao hexagonal decisivo como favorito.

Raman festeja seu gol na goleada de 5 a 0 no Westerlo (Reprodução - 20.nov.2015/Site do Gent)
Raman festeja seu gol na goleada de 5 a 0 no Westerlo (Reprodução – 20.nov.2015/Site do Gent)

Pois bastaram menos de dez segundos para Raman prejudicar drasticamente sua imagem.

No dia 20 de dezembro, em seu estádio, o Gent derrotou o Kortrijk por 3 a 0. Raman entrou no jogo nos acréscimos do segundo tempo e nem tocou na bola.

O resultado, contudo, assegurou à equipe virar o ano na primeira colocação da Jupiler League, e após a partida os jogadores, microfone à mão no gramado da Ghelamco Arena, foram se congratular com os torcedores.

Quando chegou a vez de Raman, ele disse: “Vamos cantar uma música especial agora. Ela é assim: ‘Todos os camponeses são gays’.”

Camponês é o apelido com o qual a torcida do Gent se refere, em tom de zombaria, a quem é torcedor do Brugge, o principal rival do clube.

Em uma frase, Raman insultou os fãs do Brugge, os homossexuais e os habitantes das zonas rurais.

Instantes depois, ele se arrependeu e tuitou: “Desculpo-me com todos que eu machuquei. Não foi a coisa mais sensata a fazer. Tenho muito respeito pelos torcedores do Brugge”.

Não foi suficiente para a direção do Gent relevar a atitude. Raman foi suspenso por tempo indeterminado pelo clube, que informou que o submeteria a “aconselhamento”.

A agremiação também se desculpou com “a comunidade gay” e com “os fazendeiros que se sentiram atingidos” pelo cântico homofóbico do atleta.

Nesta semana, a Comissão de Litígios da União Belga de Futebol julgou o caso de Raman. O veredicto: suspensão por uma partida e multa de € 1.200 (R$ 5.250).

Ivan De Witte, presidente do Gent, disse que não recorrerá. Considerou a decisão justa.

Em tempo: Pelo comportamento homofóbico de suas torcidas em partidas das eliminatórias da Copa do Mundo de 2018, a Fifa multou nesta quarta (13) seis federações, entre elas as de Argentina, Uruguai e Chile. Decisão acertada.

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