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A noite em que um senhor careca pôs Pelé em 2º lugar

Luís Curro

O ano era 2010. O mês, setembro. O dia, não tenho certeza: 17 ou 18.

O país era a Inglaterra. A cidade, Manchester. O local, The Lowry.

Houve um jantar em dos salões nobres do hotel cinco estrelas.

O organizador era o Mancheter United, que divulgava a jornalistas e convidados o patrocínio fechado com uma empresa chilena produtora de vinhos. Ou seria o organizador do evento essa mesma empresa, a fim de divulgar o patrocínio aos Red Devils? Não lembro. Não importa.

Naquele momento, o que importava é que, na mesma larga mesa redonda em que me sentei, a menos de dois metros de distância, sentava-se um senhor careca e elegantemente vestido: Sir Bobby Charlton, uma das lendas do futebol inglês e do United, clube que defendeu de 1954 a 1973.

Sir Bobby Charlton posa com placa em sua homenagem em evento em Manchester (Paul Ellis - 7.set.2015/AFP)
Sir Bobby Charlton posa com placa em sua homenagem em evento em Manchester (Paul Ellis – 7.set.2015/AFP)

Charlton foi campeão mundial com a Inglaterra em 1966 e enfrentou o Brasil na Copa de 1970, no México, quando a seleção tricampeã mundial ganhou por 1 a 0, gol de Jairzinho.

Eu queria falar com Charlton. Ouvir dele algumas histórias de sua carreira.

Que ele relembrasse como foi a Copa de 1966 – a única em que os inventores das regras do futebol, mas não do futebol, triunfaram (e com gol em que a bola não entrou na final contra a Alemanha).

Que falasse sobre o duelo com a seleção brasileira em Guadalajara, 45 anos atrás. E sobre os fracassos de Brasil e Inglaterra na Copa de 2010, na África do Sul.

Mas ele estava longe, a uma distância que não dava para conversar. Havia três pessoas à minha direita, entre eu e Charlton, e outras três à esquerda. Se não me engano, todas elas entendidas em vinho, não em futebol.

E o mesmo protocolo que me colocou, possivelmente por coincidência, na mesa com Charlton me impedia de trocar de lugar com os demais e me aproximar dele.

Vinho. Entrada. Mais vinho. Prato principal. Mais vinho. Sobremesa. Uma breve troca de palavras com o indivíduo à minha direita, uma mais breve ainda com o à esquerda.

Uma longa hora se passou até o jantar terminar. Os convidados se levantaram para ir embora, já estava tarde, e eu pensei: uma pergunta. Que seja uma única, mas que seja feita.

Charlton passou perto de mim, conversava com alguém, e eu educadamente interrompi e me apresentei. “Luís Curro, do jornal ‘Folha de S.Paulo’. Do Brasil.”

De forma cordial, ele me deu atenção, e eu acabei questionando algo que considerava óbvio: “Quem o senhor considera o melhor jogador de futebol da história?”.

Emendei, meio que respondendo por ele: “Pelé?”.

Charlton, então com 72 anos, contemplou-me por um instante, sorriu e respondeu calmamente: “Garoto, você viu Di Stéfano jogar?”.

Eu fiquei sem palavras, e aquele senhor careca e elegantemente vestido voltou a dar atenção a seu interlocutor, caminhando rumo à porta de saída do salão.

Tive essas recordações, marcantes, há não muito tempo.

Culpa de Wayne Rooney.

Wayne Rooney, em foto de setembro deste ano, e Bobby Charlton, em foto de maio de 1970 (Arquivo AFP)
Wayne Rooney, em foto de setembro deste ano, e Bobby Charlton, em foto de maio de 1970 (Arquivo AFP)

O atual ídolo maior do Manchester United, clube que defende desde 2004, fez um gol de pênalti na vitória por 2 a 0 do English Team contra a Suíça, no mês passado, pelas eliminatórias da Eurocopa de 2016.

Rooney, que neste sábado (24) completa 30 anos de idade, chegou a 50 gols pela seleção inglesa, em 106 jogos. O antigo recordista disputou exatamente esse número de partidas por seu país. Assinalou 49 gols.

Sim, ele mesmo: Sir Bobby Charlton, o homem que olhando nos meus olhos pôs o argentino Alfredo Di Stéfano, uma das lendas do Real Madrid, acima do Rei do Futebol.

Em tempo: Edson Arantes do Nascimento, o inigualável Pelé, completou 75 anos nesta sexta (23). Vida longa ao Rei.

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